A Cida Moreira

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Paris 22.03.1994

Cida, ma chanteuse,
já tinha escrito o cartão quando lembrei que talvez você possa me ajudar
numa coisa. Imagine que, quando vim, passei por Londres — acontece que cheguei
no aeroporto do Heathrow pouco depois da explosão da bomba do I.R.A. 1 polícia
estava revistando todo mundo e, claro, também entrei na dança. Abriram malas, e
tudo e tal. Na confusão perdi minha agenda de endereços. Felizmente tinha uma
antiga — onde está o teu — que comecei a passar a limpo 1000 vezes e nunca
terminei.
Bueno, perdi o endereço do Gianni Croti, que vive em Lisboa. Não sei se
você o conhece, é um amigo do Ivan Mattos que trabalha com vídeo, muito legal.
Et voilá: será que você poderia pedir ao Ivan o endereço/telefone de
Gianni?
O Ivan passa para você e você me manda.
Apesar da saia justa entre nós, acho que não se recusaria a algo assim. Não
me ocorre mais ninguém que conheça o Gianni. Você faria isso por mim? E
importante — aí você aproveita e me manda notícias.
*
São 7h:30 da manhã, acordei às 7h (se você soubesse como ando
comportado). Fiz café e acendi um “papier d’Arménie”, um incenso vegetal que se
compra nas farmácias. Parece que vai dar sol hoje. Peter, o amigo alemão de
Alexandre, já bate panelas na cozinha. Ele é da Rostok, Alemanha do Leste, e tem
o hábito de comer salsichas ao despertar.
Há 10 dias não sei nada do Brasil além de uma rebelião de presos com D.
Aloisio feito prisioneiro.
Nossa imagem aqui está menos que péssima. E me dou conta do quanto eu
— e todos nós, não? — andava sempre inseguro e assustado em SP, como se a
qualquer momento fosse acontecer uma catástrofe. Vou ficar até acabar o prazo da
passagem (de três meses, vence em 9 de julho) — e em setembro devo voltar para a
Alemanha. De qualquer forma, minha vontade de cair fora de SP é enorme. Quem
sabe no próximo ano? E teus planos de mudar para o Rio? Para a Julia seria ótimo.
Te mando uma folha do “papier d’Arménie”. Faça uma gaitinhasanfona com
um deles — cortar na linha pontilhada — e acenda. O perfume é delicioso.
Escuta, se quiseres mandar os CDs, entrego a Ray Güde. Posso também
encaminhar a Anne Dusquenois, aquela amiga da Cacaia que produz shows aqui.
Uma temporada tua em Paris seria vilhosa — principalmente para os franceses.
Ouço Barbara, la grande dame, cantando “a mourir pour mourir, je prefere,
l’aje tendre”. Meu francês vai melhorando dia a dia. Na quinta — hoje é terça —
gravo na TV um programa chamado “jamais sans mon livre” — em francês...
[...] .
Beijo grande.
Seu velho
Caio F.

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