A Luciano Alabarse

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Berlim, 01.07.93
[cartão]

Luciano, meu querido:
sozinho no hotel, quase uma da manhã, no verão alemão, ouço Adriana C.
no walkman e me dá uma saudade irracional de você. Que foi tão bom para mim nos
dois meses de uma POA péssima. Nenhum calor. Perdi POA, perdi SP, talvez
tenha perdido também o Brasil, me chamam para a Hugria e Indonésia, arrumo/
desarrumo malas por hotéis estranhos, choro em Veneza, beijo turcos em Milão,
acho graça em clichês, rio com Rubem Fonseca, falo duas palavras em inglês, uma
alemã, outra italiana, três francesas, outras cinco portuguesas, e não tenho mais
uma vida “normal”. Malas, hotéis. E os amigos, cadê? Você foi lindo comigo. E
distante. Me deu apoio, não o ombro. Queria tanto ter chorado a dor enorme de
POA e a velhice de meus pais no Menino Deus no ombro de um amigo. Não
temos tempo: somos maduros. Onde será que isso começa? Procuro o fio, há só a
meada. Te abraço quente e longe. Quais eram nossas esperanças? Recomendações a
Luiz Fischer (lindo), please, e fique com Deus. Te beijo, irmão.
Caio F.

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