A Maria Adelaide Amaral

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Sampa, 4 de março de 1987.

Levíssima, saudade,
aí vai a missiva de Ms Dip. Aproveito para mandar junto uma foto que o
Juvenal Pereira tirou de nosotros naquela festa do Raul Cortez. No momento exato
em que líamos a mão de Gisela Arantes. Achei engraçada. Você parece estar
dizendo qualquer coisa como “Olha, minha filha, falando franco, vai ser muito
difícil”, e eu (com meu encantador — e falso — ascendente Libra) suavizando
assim “Mas tem uma linha tão simpática aqui no monte da Lua.” Gisela está
absolutamente hipnotizada com as nossas profecias.
Também não ando muito animado. Mas voltei a escrever, ou pelo menos a
mexer nas gavetas, nos papéis, nos fantasmas. Ando muito só, um tanto assustado,
e com a esquisita sensação de que tudo acabou. Ou pelo menos está se
transformando — e radicalmente — em outra coisa. E tão vago, não sei sequer
dizer do que se trata.
Ah, esta é minha estonteante Praxis 20 — um presente que me dei (pelo
menos pralguma coisa aquele Estadão tem que servir, não é, benhê?). Ela ainda não
tem nome, aceito sugestões. Mas tem que ser algo na linha eletrônico-cibernéticopós-
pós: ela é toda dark, com luzinhas, zumbidos e ares concretistas.
Saudade, again. Y besos muy calientes. Seu,
Caio F

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