A Zaél e Nair Abreu

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21 de agosto —Rio [1969].

Queridos pais, estou aqui desde domingo, verdadeiramente maravilhado com
a beleza da cidade, a bondade e a simpatia das pessoas — tudo, enfim. O ap. de
Maria Helena Cardoso, onde estou, fica em Ipanema, perto de Copacabana, entre
a lagoa Rodrigo de Freitas e o mar. Ela (M. Helena) é uma velhinha lépida,
magrinha e bondosa, que apesar de toda a fama se considera burra e inculta. Fica
furiosa quando a gente fala que ela e Clarice Lispector são a melhores escritoras do
país. Caí num meio de escritores, os mais famosos e badalados, e estou conhecendo
todos, um por um: Clarice Lispector, Nélida Pinõn, Reynaldo Jardim, Maria Alice
Barroso, Walmir Ayala, Rose Chacel. Francisco (Boroca) é um amor de pessoa,
muito sério, inteligentíssimo, simpático. Todas as noites saio com gentes famosas,
vou a lugares famosos — parece um sonho. Tenho ido à praia todas as manhãs. Me
sinto profundamente feliz.
Francisco quer muito bem à senhora, falou-me de quando iam a festas,
com Nira (hoje, uma pintora famosa — muito amiga de Hilda) conversamos muito
sobre a família toda, gentes de Itaqui. Parece que a gente se conhece há séculos. Ele
tem 2 poemas que quer lhe mandar: são sobre a Negra, que criou a senhora e se
jogou no poço. Ele é muito respeitado aqui no Rio, conhece todo mundo, é um dos
críticos de literatura mais sérios daqui. Tem sido ótimo comigo: arrumou para eu
traduzir um livro de Rosa Chacel, uma grande escritora espanhola que mora em
Copacabana (ela é um amor de velhinha, me adorou, me deu um livro com
dedicatória e quer que o marido, que é pintor, faça o meu retrato: diz que tenho
uma cara impressionante). Francisco também está arrumando para meus livros serem publicados. Muitos escritores já me conhecem: Carmem da Silva mostra
meus contos pra todo mundo e fala de mim com entusiasmo. Me sinto mais ou
menos famoso.
Estou no quarto que pertenceu a Lúcio Cardoso, o grande escritor irmão de
Maria Helena. Isso me comove: fico pensando na minha infância, tão perdida no
tempo e no espaço, e não compreendo bem como subi, como de repente me tornei
um escritor. A vida tem caminhos estranhos, tortuosos, às vezes difíceis: um
simples gesto, involuntário, pode desencadear todo um processo. Sim, existir é
incompreensível e fascinante. As vezes que tentei morrer foi por não poder
suportar a maravilha de estar vivo e de ter escolhido ser eu mesmo e fazer aquilo
que gosto — mesmo que muitos não compreendam ou não aceitem.
Bem, desculpem, estou escrevendo como se falasse comigo mesmo. Não sei
ainda se fico ou não aqui. Não apareceu uma chance, quando aparecer eu a
segurarei com unhas e dentes: é esta a cidade que eu queria, é esta a vida que eu
amo e procuro — embora vocês, as pessoas que eu amo, estejam tão longe. Isso é
triste — mas irremediável. A verdade é que, apesar de todo o amor e a gratidão que
sinto por vocês e por meus irmãos, Porto Alegre me sufoca. Vocês sabem disso.
Detesto São Paulo, com seu ar cinzento e suas gentes apressadas, agressivas. Jamais
voltaria a morar lá, nem por 10 milhões mensais. O dinheiro não me importa, o que
quero é me sentir feliz, mesmo pobre. Também eu poderia morar na fazenda de
Hilda — adoro o lugar e eles. Mas tenho só 20 anos e quero viver numa grande
cidade, com muita gente ao meu redor, O isolamento, esse só depois que eu tiver
vivido. Não sei o que faço, onde fico: tenho muito medo, mas confio em Deus. E
apesar do meu medo há em mim uma paz enorme que eu chamo de felicidade.
(Ai, que saudade tenho de vocês todos. Quantas vezes sonho, imagino,
divago...)
Meu dinheiro está no fim, e não tenho jeito de conseguir mais — e não ser
que ganhe um prêmio a que estou concorrendo. Amanhã vou visitar Carmem da
Silva em Niterói — talvez ela me consiga um emprego.
Acho que é só. São 6,30 da tarde. Na sala, Maria Helena vê novela pela
televisão (até as escritoras adoram). Já tomei banho, fiz a barba, daqui a pouco vou
jantar e sair, teatro, cinema, bares. E as pessoas que passam por mim não saberão
jamais que nasci em Santiago do Boqueirão e um dia fui estudar em Porto Alegre,
que eu era tímido e agressivo, porque me achava horroroso com aquele bigodinho
precoce (hoje, querem pintar retratos, me acham parecido com Cristo, dizem que
tenho olhos lindos!). Acho graça, acho muita graça. Tão estranho carregar uma vida
inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, da quedas, dos medos, dos
choros. Por favor, me escrevam sempre. Preciso demais do carinho de vocês.
Mandem para o endereço de Hilda, em Campinas. Sobretudo, não sintam raiva de
mim por eu ser assim inquieto, assim “andejo”, sem paradeiro (embora com um
duro objetivo — ESCREVER, minha cruz e minha sina), assim sobre o “hippie”.
Muitos beijos para todos. Seu
Caio.

PS — Francisco manda muitos abraços. Dê notícias dele à d. Gessy, diga que está
muito bem, bem mesmo. Ad-10 que ela vai gostar de saber que eu gostei dele.
PS no 2 — As novelas que Maria Helena assiste são: Nino, o italianinho e Beto
Rockefeller.


Campinas, 19 de setembro [de 1969].

Queridos pai e mãe, cheguei ontem à noite do Rio. Vim com Hilda e Dante,
que haviam ido passar uma temporada lá. Não me canso de repetir que eles são
maravilhosos comigo, se preocupam, tentam me ajudar como podem — isso é uma
coisa que me comove profundamente.
Pensei bem a respeito de muitas coisas, e decidi ficar no Rio. O rapaz que
mora com Francisco trabalha numa agência de empregos e está me arrumando
alguma coisa. Está tudo acertado e, no momento em que ele conseguir, me escreve,
avisando. Não me importo de trabalhar num escritório ou em qualquer outro lugar
— preciso começar a minha vida, e achei que o Rio seria o melhor lugar para isso.
Mesmo que no começo seja tudo meio duro, que eu passe dificuldades e sinta falta
de certas comodidades com que me acostumei. Eu quero escrever — e somente no
Rio existem possibilidades de se conseguir alguma coisa. Em Porto Alegre eu me
sentiria muito mal, vocês me conhecem e sabem que não há mais jeito de me
adaptar aí. É duro para mim ficar longe de vocês, de Gringo, Felipe, Márcia e
Cláudia, que eu amo tanto e queria ter sempre perto, mas escolhi a literatura como
caminho, e tenho que aceitar todas as coisas resultantes dessa escolha, sejam elas
boas ou más. Não é fácil, muitas vezes eu me sinto sufocar de saudade, de
vontade de estar perto, de ver vocês — mas eu espero, se Deus quiser em breve,
fazê-los muito orgulhosos de mim. Espero poder proporcionar-lhes viagens,
conhecimentos, passeios, muitas alegrias, todos nós, os sete, juntos; para isso,
porém, é preciso dar duro, suar e trabalhar. Estou disposto a isso. O único
problema, no momento, é o dinheiro. Para me manter no Rio, antes de receber o
primeiro salário, precisaria, creio, de uns quinhentos contos. Eu me sinto
envergonhado de pedir, mas não há outro jeito; sei que vocês têm inúmeras dificuldades — mas seria só para começar, para dar os primeiros passos. Se não for
possível os quinhentos, qualquer quantia serve, farei o máximo de economia. Há
também um pagamento de meus contos no Correio do Povo; não deve ser muito, mas
qualquer coisa ajuda. Ir a Porto Alegre para buscar esse dinheiro sairia muito caro
(uns cem contos, ida e volta), e eu prefiro levar esse dinheiro para o Rio. Assim,
creio que o melhor seria mandarem para o BANCO DO BRASIL, aqui de
CAMPINAS.
Estou muito bem, de saúde e tudo. Deixei, no Rio, vários contatos feitos
para publicação de contos em jornais de lá. Deixei também encaminhada a
publicação de dois livros, um de contos e um romance. Por tudo isso — e também
porque a cidade é mesmo maravilhosa — eu preciso ficar lá, cuidando do
andamento das coisas.
No dia de meu aniversário passei-lhes um telegrama. Fiquei meio deprimido
e tal, porque aniversário é sempre deprimente, a gente sente que cada vez o tempo
que resta fica mais e mais escasso. Apesar disso, foi bom. Hilda e Dante estavam lá,
me deram um jantar lindo — mas fiquei o tempo todo pensando em vocês, com
uma vontade enorme de estar perto.
Recebi o conto, Fotografia, saído no suplemento do Correio. Está muito bem
impresso, sem erros graves. Queria saber o que vocês acharam, se alguém fez
algum comentário (o “Lince” tem comentado alguma coisa?). Tenho muita
curiosidade de saber o que as pessoas pensam do que escrevo.
Mãe, aquela carta que a senhora mandou para o endereço de Francisco me
comoveu profundamente. Como a senhora é boa, como é compreensiva — é
mesmo uma supermãe (ai, como eu gostaria de ser um superfilho). A senhora é um
verdadeiro exemplo de obstinação, de paciência: quando conto que tenho quatro
irmãos, e que a senhora, apesar disso, ainda está estudando, as pessoas ficam
surpresas e imediatamente passam a admirá-la. Eu me sinto orgulhoso da senhora,
e a tenho como verdadeiro exemplo. Outra coisa: acho que a senhora tem razão a
respeito de Magliani. Creio que tenho sido injusto com ela — escrevi hoje mesmo
uma carta bem grande para ela. Sabe qual é o problema? E que ela fica se
apaixonando por mim, e eu gosto dela só como amiga. Depois, me contaram que,
em Porto Alegre, ela fica espalhando para todo mundo que nós somos amantes e
tal — coisa que me choca porque não é verdade. Mas acho que ela não é capaz
disso. Escrevi explicando tudo a ela, dizendo que continuo amigo dela, mas só
amigo.
A senhora não conta direito o que tia Helena tem. Fico preocupado, sem
saber o que é, se é grave ou não. Noutra carta, mande dizer o que é que ela tem
mesmo. Dê notícias também de vovó, e de toda a família. Se tia Pereca ainda
estiver aí, dê um abraço e um grande beijo nela. E tia Wilma ainda não se decidiu a
passar uns tempos aí? Mande dizer a ela que no meu livro de contos tem um conto
dedicado a ela. Francisco (ele não gosta do apelido “Boroca”) tem uma grande
admiração por ela, por tia Helena, pela senhora e por vovó. Ele está sempre
lembrando de Itaqui, das gentes de lá, os Degrazia, Mondadori, contando estórias
da nossa família: diz ele que somos descendentes de judeus novos que eram nobres
espanhóis, parece que tia Zezé sabe coisas a esse respeito. Admiro muito ele:
conseguiu vencer inúmeras dificuldades por ele mesmo, sozinho, dando duro. Hoje
em dia é conhecido e respeitado em todo o Rio de Janeiro como poeta e crítico de
artes plásticas. É uma pessoa boníssima, Hilda adorou ele, ficaram grandes amigos,
logo que ele puder virá passar uns tempos aqui na fazenda.
Fiquei muito sentido com a morte do filho da Marietinha. Eles devem estar
tristíssimos, porque Marieta não pode ter outro filho. Tenho muita pena deles, e os
admiro muito também: Marieta é outra que, com todas as suas dificuldades, nunca
se deixou abater. Com mais calma quero escrever para eles, mas é uma coisa difícil,
nessas ocasiões a gente nunca sabe bem o que dizer.
É uma pena que o Felipe esteja tão podre em Matemática e Francês. Mas até
certo ponto é compreensível: a mudança de colégio, de ambiente, a idade difícil em
que ele está entrando — tudo isso deve ter agido para que descuidasse do estudo.
Me preocupo muito com ele: é muito sensível e muito nervoso. Cláudia é outra que
vai dar preocupações, tem um temperamento muito difícil. Marcinha já é mais
calma, e muito amadurecida para a idade que tem, apesar de muito tímida. Elas já
tem amiguinhos, ou ainda passam o dia em casa vendo televisão? Gringo está se
preparando bem para o vestibular? E Felipe, continua pintando ou desistiu? Diga a
ele que insista: no Brasil, os únicos artistas razoavelmente remunerados são os
pintores.
Se tudo der certo, eu gostaria de ir para o Natal, Ano Novo. Não sei se será
possível. Tenho rezado muito e pedido por mim e por vocês. Estou vivendo meus
últimos dias de folga — depois, vai ser dureza. Mas não tem importância. Dê
lembranças a Sérgio, vovó Zaira e Marco Afonso. Dona Tuba, como está? Falemme
do novo apartamento. Lembranças para todos. Um grande e saudoso abraço do
filho,
Caio

A estória do apartamento foi um mal-entendido. Hermínia (amiga minha,
muito boa) não sabia que eu havia transferido o contrato e pensou que a
responsabilidade do despejo era minha. O rapaz para quem fiz a transferência não
pagou, mas estava tudo no nome dele — não no meu. Portanto, a responsabilidade
não era minha. As coisas que haviam ficado lá estão na casa dessa Hermínia, em
São Paulo: falei com ela e está tudo esclarecido.


Casa do Sol, 29 de outubro [de 1969].

Queridos pai e mãe, esta é uma carta só de boas notícias, portanto preparemse.
Em primeiro lugar A MINHA VOZ MELHOROUU! Foi uma mudança
completa: estou com uma voz muito bonita, grave, forte, perfeitamente normal.
Tudo começou quando Hilda e Dante me deram de presente um GRAVADOR
(eles são mesmo maravilhosos). Gravei a minha voz vários dias, várias vezes,
pensava em fazer exercícios, melhorar aos poucos. Até que ontem à noite, de
repente, a voz MUDOU. Fiquei assustadíssimo, achei que fosse uma melhora
repentina e que logo ia voltar a ser como antes. Aí fiquei umas duas horas falando
no gravador, e a voz continuava ÓTIMA. Hoje de manhã mostrei à Hilda, ela ficou
felicíssima, Dante também — foi uma verdadeira festa. É impressionante a
mudança, vocês vão ficar tão bobos quanto eu quando ouvirem. Me sinto
felicíssimo, isso resolve praticamente todos os meus problemas, posso fazer o que
quiser, falar com quem quiser, ninguém vai rir nem achar esquisito. A única
explicação que tenho é que se trata de um autêntico milagre. Amanhã vou num
otorrinolaringologista aqui de Campinas, para ver se não há problema de forçar
demais a garganta, acontecerem coisas péssimas depois. Acho que não. Me sinto
perfeitamente à vontade falando assim. Que pena que vocês não possam ouvir,
ficariam alegríssimos. Depois, não é só uma voz normal; é principalmente uma voz
bonita, charmosa, sei lá. Fiquem contentes comigo. Graças a Deus tudo melhorou.
Vou sábado para o Rio. Escrevi para o Francisco dizendo que eu só tinha cem contos, se ele não se importava de me hospedar por um tempo e até mesmo
me pagar algumas refeições até eu arrumar onde morar e receber o primeiro
ordenado. Ontem recebi um telegrama dele: Te espero de braços abertos. Assim,
decidi ir. Essa voz nova torna tudo mais fácil, me sinto com coragem para enfrentar
qualquer coisa. Gostaria então que mandassem o dinheiro para o Banco do Brasil
do Rio, agência de Copacabana. O endereço é: Rua Bolívar, 45, ap. 214 —
Copacabana — Rio — GB. Francisco e o rapaz que mora com ele, Hilton Papini,
são pessoas maravilhosas, e vocês não têm absolutamente com que ficarem
preocupados. Tenho certeza que tudo vai sair às mil maravilhas. Nunca tive tanta
certeza de alguma coisa.
Recebi também uma carta duma amiga minha do Rio, escritora, Nélida
Piñon, dizendo que já encaminhou os Contos que havia deixado com ela para os
suplementos do Rio e para outras revistas que não sei ainda quais são, pois ela não
explica na carta. Em breve estarei muito bem de vida, me sentindo feliz e realizado,
vocês vão ver. Ainda não soube o resultado daquele concurso que estou
participando e que, se vencido, me dará um milhão mais a publicação do livro. Mas
tenho certeza de ganhar. Vocês vejam que coisa estranha e mágica: três noites atrás,
sentei na área e comecei a olhar Lua cheia, que estava muito bonita. Aí, de repente,
me deu uma aensação esquisita, senti que eu podia fazer três pedidos que seria
atendido. Aí pedi, primeiro, que minha voz melhorasse; segundo, para ir logo para
o Rio; e terceiro, para ganhar esse concurso. No dia seguinte, recebi o telegrama do
Francisco (o segundo pedido); Ontem a voz melhorou (o primeiro) — portanto
agora só falta ser atendido o terceiro. E muito estranho. Mas eu prefiro pensar que
essa melhora inexplicável seja uma prova da existência de Deus, e de que ele me
protege. Ou Deus ou bons espíritos, não sei. Certas coisas são tão evidentes, apesar
de inexplicáveis, que a gente não pode deixar de acreditar.
No mais, aqui tudo bem. Amanhã é o aniversário do Dante, e sexta há uma
exposição das esculturas dele na casa de uma grã-fina de Campinas, casada com um
americano. Esse casal vai oferecer ao Dante uma festa chiquérrima, com uísques
estrangeiros, caviar, essas coisas. Estarei lá, com a minha nova voz. No dia
posterior, sábado, irei para o Rio. Portanto, vai ser um fim de semana bastante
movimentado.
Estou me sentindo imensamente feliz. A minha única mágoa é não poder
estar perto de vocês todos. Seria maravilhoso se eu pudesse ir no Natal ou no Ano
Novo, quem sabe no carnaval. Vou fazer o possível, mas tudo depende do
emprego que eu arranjar.
Hilda está muito bem e manda abraços para todo mundo. Dante também.
Escrevam logo. Toda a minha saudade e o meu amor.
Seu,
Caio

PS - Escrevi uma carta ao Nilton e à Maneta dando os pêsames pelo falecimento
do menino. Como não sabia o endereço deles, mandei para a vovó Zaira.
PS no 2 - Magliani não me escreveu mais? Ela tem aparecido? Contem a ela as
novidades e peçam para que ela me escreva.
PS no 3 - COMO ESTÁ CLÁUDIA?
PS n°4 - Outro dia tive um sonho muito ruim com a vovó. Têm recebido notícias
dela?

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