A Luciano Alabarse

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São Paulo, 25 de julho de 1994

Querido,
não estou seguro do teu endereço — perdi minha agenda em Londres —
então escrevo a/c secretaria da Cultura — espero que chegue.
Te envio, na xerox, um presente. Tenho certeza que você vai gostar muito,
muito. A história é totalmente verdadeira: puro mistério.
Voltei há pouco mais de um mês. E caí doente. Perdi oito quilos; estou quase
transparente! Tomo mil antibióticos — a médica acha que é um daqueles vírus
viciados em antibióticos, que exigem doses cada vez mais fortes (vírus junkies,
pode?). Amanhã faço 300 exames de tudo que você possa imaginar, inclusive o
HIV, que nunca fiz. Naturalmente a saia é justa, mas como a fé é larga, fica tudo
equilibrado. Coloco nas mãos de Deus.
Meu Quixote (até hoje não sei a sua opinião!) está empatado por Carlinhos
Moreno, que não se decide. Imagine, ele acha bom demais para si mesmo. Acha
que não tem pique, garra. No momento, deixou para o ano que vem. E eu revi
coisinhas no texto — gosto muito, confesso — e vou inscrevê-lo num concurso
para dramarturgia inédita.
Gilberto Gawronsky está aqui, e me falou que você planeja levar Uma história
de borboletas para um festival aí em POA. Achei maravilhoso. O Ricardo Blat faz
divinamente. E quem sabe seria uma oportunidade para voltar à nossa velha e boa
carroça? Ando morto de saudade daí, tchê. Mas cheguei muito duro (viajei tudo a
que tinha direito, inclusive Estocolmo, depois de 21 anos, que passaram como um
sopro) e precisei pegar muita costura pra fora, não dá pra viajar.
Queria saber notícias suas — coração, cabeça e tudo mais. Estou no mesmo
apart-hotel (tenho que voltar à Alemanha em outubro, França em novembro). Dulce
V. está sendo um sucesso na França, ganhei meia página no Le Monde, meia no
L’Express, entrevistas e críticas ótimas em jornais, revistas, rádios, TVs (que têm
programas literários, ai o luxo do Primeiro Mundo!). Então estou feliz — como a
aranha, vivendo do que teço.
Fica com Deus. Te abraço com carinho, seu
Caio F.

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