A Marcos Breda

0

SP 22.04.1988

Quirida, morena, guria, famosa, charmosa, gostosa e, sobretudo, CAPA!!!
Vi a nossa secretária de Redação, a mini Cida de Assis, estou mandando a AZ
com um amigo meu na capa. Na opinião geral aqui do pessoal ficou DO
CARALHO, espero que você concorde, divulgue, faça posters e, principalmente,
coma muitas garotas usando a revista como técnica (irresistível) de sedução. Afinal,
trepar com uma CAPA não é qualquer hora que pinta. Eu e Karina bem que
pensamos em cortar o cromo pela metade, deixando só o estonteante casal ao
fundo. Mas o apelo dos seus verdes olhos foi mais forte que a najice. Agora
planejamos falsificar várias cartas de leitores nervosos querendo a todo custo saber
quem, afmal, é esse casal maravilhoso nas sombras?
Deu trabalho demais, você não imagina. Aí pintam essas gratificações: ficou
linda, a revista toda. Então valeu. Ah, preste atenção na matéria de Nadja de Lenos.
Certamente você conhece muitas daquelas personagens.
Meu amigo, andei tão maus. Uma tristeza que não me largava. Aquela
baixaria da Folha agravou o estado lastimável. Uma sensação de abandono, de
solidão sem remédio — conhece o texto? —, de velhice chegando & eu chegando
ao fim, sem ninguém nem nada além de ilusões já tão esfarrapadinhas. Velha! Você
está uma velha, velha velha! Tô sabendo, é crise dos 40 (dinossaura! Tutankamon!
ânfora (ânfora é muito bom, lembra ruínas de Pompéia)!), mas Deus, como é duro.
Aquela história de amor já ganhou o Troféu Rodenir 80, nunca vi (nem vivi, o que
é pior) nada tão enrolado. Agora ele sumiu, desapareceu, não tenho a menor idéia
onde anda depois de um recado meio arfante na secretária na última terça: querote-
ver-te-abraçar-estou-com-saudade. Ligo, isto é uma gravação. Ronaldo diz que a
cada transbordamento de emoção corresponde um desaparecimento igual e contrário. Fico cansado. Tentei dar umas peruadas avulsas, não deu muito certo.
Um problema da tal crise dos 40 é que você começa a achar sexo sem amor uma
coisa meio pêra. Mete aqui, mete ali, levanta a perna, ergue a bunda, esfola os
cotovelos no colchão ortopédico, transpira, transpira, depois dorme e acorda na
manhã seguinte com aquele verso de Garcia Lorca na cabeça: “hay cuerpos que no
devem repetirse en la aurora”.
Andei chorando baldes, Ronaldo chegou a ficar assustado.
Nos últimos dias, isto é, ontem, a tristeza começou a ceder terreno a uma
espécie de — digamos — abnegação. Durmo, acordo, faço coisas, leio muito. E
esse vazio que ninguém dá jeito? Você guarda no bolso, olha o céu, suspira, vai a
um cinema, essas coisas. E tudo, e tudo, e tudo. Me arruma um namorado, benhê?
Tenho visto você chez Jocasta quase todo dia. Gosto sempre (as pernas aqui
da publicidade ficam todas loucas), é muito intenso, forte. Não suporto muito ver a
novela, fico trocando de canal, quando tem cena sua acompanho inteira (amiga!). E
como estão seus planos para o futuro?
O papel acabou. Sábado que vem tenho lançamento dos Dragões na carroça.
Levarei aquela saia de tweed. Saudade imensa de você. Fala o que achou da revista.
Um beijo.
Caio

PS — A outra A-Z é para a Jacqueline.

Ler mais »

0 comentários: